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Luisa Carvalho Miranda de Lima – associada do IPB
A pergunta que funciona como norte para a minha elaboração sobre o tema da Jornada deste ano é: seria o desejo uma via possível de saída da posição de gozo de Devastação?
O ponto que quero destacar neste texto é sobre a posição de gozo de Devastação que um parlêtre pode ocupar na relação com a mãe. Trata-se, pois, de uma relação, ou melhor, uma parceria de gozo, e que a característica dessa parceria é de que não comporta a castração[1]. Isso significa que é uma relação sem separação, como se fossem iguais ou se pudessem ocupar o mesmo lugar sendo, portanto, uma relação de gozo de sofrimento.
Se falamos de uma relação em que a castração não está, torna-se evidente que o significante fálico não opera com a falta e, portanto, não há o circuito do desejo, o qual possibilita que a libido possa circular entre os espaços que uma falta instaura. O desejo aqui tem uma função importante, pois aponta para o que falta na vida de um parlêtre. Se entre mãe e filha há puro gozo e nenhum movimento para separar-se, temos aí algo difícil. É necessário que nessa relação possa ser instaurada uma falta, e é aí que o desejo cumpre uma função: o surgimento de um Ideal.
![“Atelier de Yocequa. Papillons”](https://ebpbahia.com.br/jornadas/2023/wp-content/uploads/2023/10/boletim005_imagem_texto_luisa-211x300.jpg)
“Atelier de Yocequa. Papillons”
Uma parceria de gozo é diferente de uma parceria que comporta uma separação entre dois. Enquanto na primeira o que impera é uma relação de sofrimento, a segunda se destaca por ser uma parceria que comporta uma decisão de estar juntos, cada um com seu pensamento, ou seja, trata-se de uma separação no nível do simbólico e que tem efeitos no gozo.
O aforismo lacaniano “Só o amor permite ao gozo condescender ao desejo”[2] estabelece aqui uma relação entre a mutação de gozo em desejo, movimento que só é possível através do amor. Na análise, chamamos o amor de amor de transferência, sendo ele o motor do tratamento analítico, ou seja, é aquilo que move e que faz avançar uma análise na direção de tratamento do gozo. Portanto, através da instauração do desejo pela via da análise, é possível mudar esse modo de parceria de gozo entre mãe e filha.