Boletim #06 – OUTUBRO 2023
EDITORIAL
Wilker França – cartelizante e associado do IPB
Ainda na contagem regressiva para nossa Jornada… Estamos nos últimos preparativos e, assim, o boletim Desidério apresenta vestígios de seu final. Um boletim preparatório que precisa findar para que a Jornada aconteça. O fim se anuncia, mas ainda estamos com fôlego para manter viva a discussão em torno de nosso tema: “Desejo: mostra tua cara”.
E há algo no desejo que aponta para o exílio de cada um diante da linguagem e da inexistência da relação sexual. “Somos todos exilados.” Entretanto, pensando o exílio como uma necessidade diante da própria pátria (A bolsa/pátria ou a vida?), como fica a questão do desejo? Foi com essa questão no horizonte…
Com a cara na rua e sem fantasia
Luiz Felipe Monteiro – EBP/AMP
Uma volta a mais sobre o tema do desejo… agora mais perto de ele mostrar sua cara nas Jornadas da Seção Bahia da EBP e do IPB.
“Lay lady lay” era o título do texto anterior que escrevi para o Desidério. Ao fim do texto, lançava uma pergunta que sempre me intrigou quando vinha a lembrança da famosa frase de Lacan: “o desejo é o desejo do Outro”.
Se o desejo é um ato em suspenso, um ato que o narcisismo não dá consentimento, justamente por ser a parte de libido não avalizada pelo Outro e, portanto, não recoberta pela demanda, como pensar então a famosa prerrogativa lacaniana do desejo como desejo do Outro? Não haveria aí uma contradição?
Uma interrogação vagando sem pressa
Daniela Lima de Almeida – Associada do IPB
Do que se trata o objeto causa de desejo? Esta foi uma das questões que se decantaram na primeira preparatória da Jornada. Neste escrito, pretendo circunscrever algumas ancoragens para cernir tal questão. Para começar, destaco que abordar a causa de desejo requer, sobretudo, interrogar o que Lacan designou como objeto a e como sua função implica uma báscula entre angústia e desejo. Na lição VII do Seminário 10, trabalhada por Elisa Alvarenga (2022), Lacan situa que a manifestação mais flagrante do objeto a é a angústia. Neste momento, o objeto a é formulado como aquilo que escapa, como resíduo da operação de divisão do sujeito em relação à entrada na linguagem, objeto que não é circunscrito à imaginarização e à simbolização. Com essa proposição, Lacan demarca…
Dois regimes de interpretação
Milena Nadier – Associada do IPB
No argumento para o Eixo 3 da XXVII Jornada da EBP-Bahia, Iordan e Sônia nos dizem o seguinte: “Lacan, por reconhecer o desejo como desejo de ser reconhecido pelo Outro, o articula ao campo da linguagem, ancorando-se no significante e, por isso mesmo, abre asas para a interpretação”.
Essa é uma afirmação preciosa, mas que precisa ser lida a partir de certo enquadre. Afinal, ela se refere, mais particularmente, a um tempo no qual a elaboração lacaniana desenhava uma noção de sujeito, sem substância, uma falta-a-ser. E, nesse caso, o desejo de reconhecimento fazia-se como um desejo de ser. Algo que “se poderia resolver” através da validação ou endosso..