
Boletim #04 – OUTUBRO 2023
EDITORIAL
Tânia Abreu – EBP/ AMP
Caríssimos colegas,
A leitura deste número do Boletim Desidério é imprescindível para a formação de vocês, visto a riqueza do que aqui encontrarão.
Começo pelas ressonâncias da obra-prima de Kleber Mendonça Filho, Retratos fantasmas, sobre o qual Cristiane Barreto e Anamaria Vasconcelos, colegas membros da EBP, delicadamente aceitaram escrever para nosso boletim. Elas destacam com profundidade o tom nostálgico e amoroso com o qual Kleber trata os carnavais de nossa Veneza brasileira! O desejo do diretor pelo cinema é uma marca de onde podemos chegar guiados por um desejo decidido.

LAMPEJOS
Enlouquecimento do desejo e não funcionamento da fantasia
Fátima Sarmento – AME EBP/AMP
No seu primeiro ensino, Lacan apresenta o desejo como desejo do Outro e o falo como significante desse desejo. Assim, para o neurótico, o desejo do Outro está no horizonte de todas as suas demandas e se impõe para o sujeito de forma perturbadora e enigmática. Isto se dá pelo fato de a experiência do desejo só aparecer como contrária à construção da realidade e ainda porque o desejo é sempre desejo de outra coisa, é um x. Nesse sentido, se não há acordo pré-formado entre o desejo e o campo do mundo, o desejo se apresenta como o tormento do homem.

Ponto de angústia e ponto de desejo
Bruno de Halleux – ECF/AMP
O que vemos quando olhamos para um quadro? Como olhamos pra isso? A essa pergunta, feita por Marlène Dumas ao longo de sua vida de artista, Lacan responde de forma esclarecedora: o mais-de-gozar que nos arrebata diante de uma pintura não deixa de ter um toque de angústia, e isso se revela particularmente verdadeiro pela obra de Marlène Dumas.
Em sua exposição do ano passado no Palácio Grazzi, Dumas mostrava, de fato, em suas obras o que não se vê nas fotos e imagens através das quais ela parte. “Para ela, trata-se de captar, de extrair, de colocar em evidência o que escapa à visão, aquilo que não foi visto.”

Disciplina do Comentário
Laiz Cardozo – Associada do IPB
No capítulo VII de A interpretação dos sonhos, Freud estabelece uma noção do funcionamento do aparelho psíquico. Partindo do modelo baseado no arco-reflexo, ele propõe uma segunda hipótese em que trabalha com o princípio do prazer-desprazer, de modo que o aumento da excitação é lido como desprazer, ao passo que a redução da estimulação é vivida como uma experiência prazerosa. Freud supõe que o aparelho psíquico se coloca em busca de um prazer primevo, vivido numa primeira experiência de satisfação (Freud, 1900/1996).

DESEJAR-TE
FLIGÊ
Ester Figueiredo – Curadora da FLIGÊ
Espaço do desejo parece-me paradoxal. Contudo, a vida, fora do biológico, é um fluxo de interação para preencher esse espaço. Após um percurso de carreira acadêmica, chegando ao último nível, e dele abdicar de novas incursões, o desejo impõe-se como uma ocupação desse espaço movente do que é a vida. Ocupação que duela para não invadir espaços da vida cotidiana, o prazer da escrita, da leitura e os gestos de renúncia das vaidades sociais. As horas de vida foi e é possível pelo encontro com outro objeto, após o saldo de experiências com a educação. Assim, a literatura como ofício, desejada bem antes do espaço herdado da finalização de um ciclo, inaugurou contextos de interações e produções de sentidos que amalgama o tecido do próprio viver.

Desejo e arte
Márcia Ledo – Cartelizante e associada do IPB
Ao retornar da Fligê, Feira Literária de Mucugê, procurei trazer o que reverberou em mim de um desejo decidido, sustentado por muitos que pareciam precisar da arte para viver, um respiro!
Reunidos em torno do tema “literatura e música”, as ruas, praças, auditórios e palcos da cidade foram tomados por músicos, artistas, escritores, cineastas e poetas que puderam expor suas produções autorais, criações singulares.

Retratos fantasmas e a causa do desejo
Cristiane Barreto – EBP/ AMP
O filme de Kleber Mendonça Filho é um roteiro de domingo de cinema da vida toda. Imediatamente após assistir a Retratos fantasmas, quis registrar filetes de frases, compondo o que passou por mim naqueles rolos de filmes, fotografias em caixas, retalhos de filme dos outros, cenas curtas, frases de pura voz, narrativa de imagens erguidas e caídas. Casa morada, prédio objeto, prédios abjetos de paisagem íntima, corpo apartamento. Um esplendor delicado define o filme. Cotidiano. Achados. Sobre memória, cinema, mãe e almas das cidades. Sobre causa de desejo, e o que daí se deriva do amor.

Por um amor a Recife
Anamaria Vasconcelos – EBP/ AMP
Sim! Recife tem cheiro. Cheiro de mar, de lama, de flores, de frutas e de mijo.
Retratos fantasmas é uma elegia ao Recife, uma obra sensível, inteligente, bem-humorada e… melodramática? Assim como Kleber Mendonça deixou para o público responder, sigo sua indicação.
O “Melô”, como assim fala o diretor, é dito com temor, mas ele se retifica dizendo que não tem problema com o estilo. (Kleber Mendonça. Metrópolis – YouTube. 2 de setembro)

“AlÉM DO MAIS… A ESCOLA”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Outros autores
ALVARENGA, E. Amor e angústia: entre desejo e gozo. In: ALVARENGA, E. Entre o gozo e o desejo: uma leitura do seminário A angústia, de Jacques Lacan. Belo Horizonte: Scriptum, 2022. p. 136-155.
“[…] A angústia ocupa uma posição mediana e não mediadora, entre o gozo e o desejo. O gozo não reconhece o Outro, senão através deste resto o pequeno a, e no final dessa operação temos o sujeito barrado, um dos dois termos que constitui na fantasia o suporte do desejo. O sujeito barrado é o sujeito do desejo. Na fantasia, esse sujeito está escrito, sujeito em conjunção ou disjunção com o objeto a.” (p. 139)

Diretoria da EBP – Bahia: Diretor Geral – Luiz Felipe Monteiro | Diretora Secretária Tesoureira – Luiza Sarno
Diretora de Cartéis e Intercâmbio – Carla Fernandes | Diretor de Biblioteca – Rogério Barros
Diretoria do IPB: Analícea Calmon (Diretora Geral) | Sônia Vicente (Diretora de Ensino)
Luiza Sarno (Diretora de Planejamento e Finanças)
Coordenação Geral das XXVII Jornadas: Pablo Sauce (EBP/AMP)
Comissão de Comunicação: Daniela Nunes Araujo (coord), Bruno Oliveira,
Graziela Vasconcelos, Júlia Jones, Liliane Sales, Márcia Ledo, Tânia Abreu e Wilker França.
Designer: Bruno Senna
