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Graziela Pires (cartelizante e associada ao IPB)
Esse é o título da música que encerra Barbie, um dos filmes mais comentados do momento. Billie Eilish,[2] sua compositora de 23 anos, entoa de forma melancólica e suspirada a canção como um apelo numa busca de respostas ou sentido para sua existência. Ao ler a entrevista de Fabián Naparstek, intitulada “El deseo es la horma”, a música me veio ao pensamento, reverberando junto a questão localizada: para o quê fui criada?
No percurso da entrevista, para falar sobre o desejo, Fabián aborda os efeitos do discurso contemporâneo sobre essa instância tão valiosa, destacando que a clínica na atualidade parece estar cada vez mais marcada por essa falta de bússola ou fôrma, metáfora utilizada pelo autor para falar sobre o desejo, onde muitos pacientes parecem perdidos e desbussolados quanto ao molde que os vai direcionar nessa busca. A questão da queda do Nome-do-Pai, pincelada no texto, ecoa nos excessos de objetos disponíveis sob a sentença “A falta já tem solução, compre duas por dez!”.
Contudo, o que se escuta nos consultórios sinaliza o inverso: o excesso de objetos não resolve o embaraço com a contingência quando a falta se apresenta. E a ilusão de que isso é possível promove corpos angustiados e sem “(a) menor ideia” do que fazer com isso, posto que tudo da ordem do ter foi feito, mas, do ser, não se tem notícias.
O jargão da moda apela feroz-e-mente (!): Você precisa saber qual seu propósito – entretanto, como se fosse possível tirar a resposta em um jogo de cartas de tarô, articulando um enredo discursivo que deixa o sujeito aprisionado no imaginário do primeiro andar do grafo, atado em ideais e fixações de sentido.
A partir da provocação da entrevista, pensar a ausência do desejo nos corpos falantes como uma devastação frente à sua localização, dando ao desejo uma resposta anoréxica, aponta para certa angústia que ecoa da escuta com crianças e adolescentes. Na clínica contemporânea, isso se apresenta de forma franca: um tamponamento diante de um “não saber”. Os excessos do diagnóstico, uma gama de nomes que tendem a abraçar tudo que traz mal-estar para as crianças, como o espectro autista, depressão, TDAH… Crianças hoje assujeitadas, há um discurso contemporâneo com suas “toda” mães e seus manuais de como produzir filhos perfeitos e… objetos, nesse infinitivo de tamponamentos/nomes/soluções que façam existir e consistir numa resposta para encobrir o insuportável do não há relação sexual. As crianças já chegam rotuladas por esses nomes, sem que se possa interrogar o que lhes acontece, qual o seu sofrimento – afinal, elas podem sofrer.
Num trabalho de análise, há a possibilidade de encontrar algum ponto de partida, um fio que seja, que possibilite ao sujeito tanger algo do desejo, do ser, sua pergunta singular que ecoa de sua histoeria: What was I made for? (Che voi?).