No dia primeiro de agosto de 2023, participei do encontro do Núcleo Pequeno Hans, cuja convidada foi Nieves Soria. Nessa data, discutiu-se a incidência do feminino sobre o desejo materno, a partir dos efeitos da evaporação do Nome-do-Pai.
Uma pontuação importante de Nieves é o efeito orientador que o Nome-do-Pai detém, demarcando que a sustentação da família pelo Nome-do-Pai situava a mulher nos lugares de mãe, esposa e filha. Como efeito dessa sustentação, havia uma drenagem do gozo feminino, uma drenagem incompleta, que deixava escapar alguma coisa e instalava uma dimensão enigmática em torno do feminino, ocultado pelo ideal masculino.
Em tempos de evaporação do Nome-do-Pai, pode-se falar em Desejo da Mãe? Nieves lança essa pergunta ao localizar a metáfora paterna como o mecanismo que organiza o eu, o corpo e a realidade, incluindo aí a posição sexuada. Ou seja, é a partir da operação da metáfora que se abre a possibilidade de entrar no laço discursivo, marcado pelo mal-entendido.
Sem a lógica edípica, segundo Nieves, é impossível pensar o gozo feminino como suplementar, pois ele é suplementar ao gozo fálico. Ou seja, sem o Édipo, não pode haver não-todo. A forclusão da castração, rechaçada pelo discurso capitalista, incide na lógica do feminino, fazendo desaparecer o falo como falta.
Como efeito dessa forclusão, encontramos corpo e gozo retornando na clínica atual sob a prevalência da imagem. O sujeito cai sob uma nominação imaginária, aquilo que resta com a queda do Nome-do-Pai.
Nieves localiza que a evaporação do Nome-do-Pai deixa como consequência o objeto a como tamponador do furo e o sujeito no lugar de consumidor. Dessa forma, a relação com a falta não se dá pela dialética do desejo, mas pelo viés utilitarista. A criança enquanto objeto da mãe pode vir a ocupar esse lugar utilitário, ficando capturada pelo espelho.
Dessa forma, pode-se pensar que o desejo da mãe, ao sofrer a incidência direta da evaporação do Nome-do-Pai, atrela a criança ao lugar do falo imaginário como reverso da falta, levando a uma exacerbação do narcisismo e produzindo como efeito uma imagem sem profundidade em que o gozo corporal aparece como excessivo e fora do corpo, que constatamos na explosão de casos de agitação corporal, anorexias e autolesões.