Especial é o significante que define este Boletim, apresentando uma nova rubrica intitulada “Além do mais… a Escola”. A ideia partiu da curiosidade de saber um pouco mais sobre o que mantém uma causa viva. Inicialmente pensamos que seriam apenas entrevistas pontuais com diversos membros da EBP e seus relatos individuais. Estávamos enganados! O que se configura nessa rubrica vai além de palavras fechadas ou retóricas sócio-históricas, transformando-se em testemunhos vivos que nos ajudam a rememorar o passado para então elaborarmos, no agora, um só-depois que sustente uma Escola da causa freudiana.
Afinal, o que mantém a Escola de Lacan viva?
Ao ser interrogado sobre isso, o chat GPT elaborou uma série de fatores. Falou sobre a originalidade e complexidade da obra, citou a inovação clínica lacaniana, tocou na questão da interdisciplinaridade dos campos em que Lacan se aprofunda, demonstrou o impacto na cultura e até mesmo a ousadia de sua obra diante da psicanálise de sua época. Em suma, a IA nos ofereceu uma resposta amplamente técnica, coesa e fechada, descrevendo conceitos lacanianos com uma velocidade de causar inveja a qualquer artigo científico. Para qualquer pergunta feita sobre a teoria lacaniana, lá estava a IA prontamente a responder sem a menor dúvida. Não havia espaço para hesitação.
Mas quando perguntamos se o chat apostaria na psicanálise, a resposta foi “Como inteligência artificial, não tenho opiniões pessoais, sentimentos ou capacidade de fazer previsões baseadas em crenças. No entanto, posso fornecer informações objetivas sobre a psicanálise.”
Aí está! A palavra “aposta” na questão imposta à IA foi proposital. Façam esse teste: qualquer indagação com esse intrigante significante irá provocar sempre a mesma resposta denunciando uma limitação crucial à IA: ela não pode apostar por não estar viva.
Lacan, no Seminário 16, retoma o conceito de aposta, amplamente utilizado no campo psicanalítico, para destacar com ele a incompletude do Outro. Em outras palavras, só há uma “aposta” quando de algum modo se reconhece um Outro barrado, um Outro inconsistente donde advém um furo no saber. A palavra aposta põe em xeque o chat, separando não o homem da máquina – Isso sempre foi uma coisa só – mas denunciando um sujeito do inconsciente impossível de ser apreendido por uma inteligência que replica um Outro que finge ser todo. É disso que se trata a aposta contida no famoso jargão “para-além”: a rebelião do sujeito do inconsciente no mundo das máquinas.
Somos então convidados com esta rubrica a desbravar esta aposta para além das máquinas, para além do artificial, em tempos de um Outro cultuado e adorado como todo. Vamos juntos então acompanhar em “Além do mais… a Escola” que uma aposta está para além das máquinas, do artificial, desse Outro dos gadgets que insiste em aparecer absoluto. Por meio desses vivificantes testemunhos, A Escola Brasileira de Psicanálise mostra a sua cara. Lacan nos ensina por meio destes depoimentos a aposta que nos mantém vivos. E nessa edição especial, teremos a honra de contar com Bernardino Horne, AME da EBP/AMP, o nosso Varón, trazendo a sua aposta… Mais viva do que nunca. Confiram!