Segundo Freud, nós, leigos, somos constantemente causados pela curiosidade em saber “de que fontes esse estranho ser, o escritor criativo, retira seu material” e como alcança nos surpreender e despertar emoções, das quais nem cogitávamos. Ainda segundo ele, os escritores criativos nos asseguram que só com o último homem morrerá o último poeta.
É neste mesmo texto, em “Escritores criativos e devaneios”, que Freud já desenhará algo a respeito da fantasia nas crianças. Um tempo de passagem do brincar para os devaneios, tempo da criança de abdicar dos objetos reais para a construção da fantasia.
Pois fantasia, infantil, lenda, travessura, arte, cidade, poesia, máscara, são significantes que perpassam o material que segue, num percurso do Édipo ao além do Édipo, na tensão entre gozo e desejo. Excentri-cidades. É por este universo que passearemos neste Boletim Desidério #3.
Iniciamos os Lampejos com a generosa e precisa contribuição da colega de Minas, Maria Rita Guimarães (EBP/AMP), que trata de uma máscara do desejo. Em seguida, Enric Berenguer (ELP/AMP) nos convida a conversar sobre o desejo, na época do Um sozinho. Na sequência, Paula Goulart elenca pontos que recolheu sobre o tema do desejo da mãe hoje, em uma aula de Nieves Soria; e Camila Costa contribui com uma disciplina do comentário.
Na DesejAR-TE, Cristina Leiffert transmite do desejo de fazer arte a partir de uma formação do inconsciente – o sonho; e os colegas que cuidam desta comissão nos brindam, uma vez mais, com poesias em vídeo. Já pelas letras, Fabio Mantovaneli e Saulo Machado Cunha, tecem de aventuras e lendas da cidade, a bordados sobre o desejo.
No ritmo do “Além do mais… a Escola”, Marcelo Veras (EBP/AMP) e Romildo do Rego Barros (EBP/AMP), nos contemplam com mais da transmissão sobre o desejo de Escola. Do múltiplo ao Uno, da Bahia a outros ares, a pergunta é a mesma: o que mantém a Escola de Lacan viva?
Para seguirmos a pesquisa, a comissão de bibliografia compilou diversas referências de Miller. Ainda é tempo de escrita, criações, devaneios.
Por fim e subvertendo talvez a ordem das coisas, sirvo-me deste editorial para desde já agradecer e também tratar do que tem sido esta experiência de participar do processo de bastidor e de trabalho em direção às Jornadas, coordenando a comissão de comunicação.
Gostaria de dizer que, se algo marca esta comissão e atravessa seus participantes, é o entusiasmo. Mas também não é sem efeito de um trabalho de cartel que seguimos. Um inusitado encontro de 4 +1 se deu nesta comissão e tem sido possível experimentar a troca, mas também os produtos-consequência do trabalho de cada um. Estamos entre o um e o múltiplo.
Cada integrante foi traçando seu campo de atuação de forma leve: Bruno Oliveira e o engajamento na pesquisa sobre o desejo de Escola e os filmes; Júlia Jones e a pesquisa por referências, o trabalho de traduções e a criação de vídeos e animações; Wilker França e seu empenho na coordenação de uma comissão que a cada Boletim mostra sua cara, a DesejAR-TE; e Tânia Abreu que funciona como uma +1 entre nós, constantemente nos provocando. Não é sem um processo de elaborações e conversações teóricas que os Boletins e a comunicação em redes vem se dando. Ainda conosco, nessas comissões, marcando presença e fazendo a poesia persistir, estão Graziela Vasconcelos, Liliane Sales, Márcia Ledo e Marília Santiago.
Não sem desejo. Que este Boletim também possa surpreendê-l@ e que neste jogo de preparatórias você se entusiasme a vir a Salvador para mantermos o debate sobre o desejo, vivo. Visite o site, inscreva-se, boas leituras e até breve!