Te esperei vinte e quatro horas ou mais
de cada dia que eu vivi
Te esperei mais de sete dias por semana
Sem um só dia te trair
Te esperei mais de nove meses sem poder parir
Mais de doze meses cada ano,
E te esperava
até um novo século surgir .
Ao retornar da Fligê, Feira Literária de Mucugê, procurei trazer o que reverberou em mim de um desejo decidido, sustentado por muitos que pareciam precisar da arte para viver, um respiro!
Reunidos em torno do tema “literatura e música”, as ruas, praças, auditórios e palcos da cidade foram tomados por músicos, artistas, escritores, cineastas e poetas que puderam expor suas produções autorais, criações singulares.
Ocupados que estamos em pensar o lugar do desejo na atualidade, circular por Mucugê foi uma possibilidade de buscar nas suas múltiplas vertentes as caras do desejo, suas manifestações, suas possíveis definições. Embalados pelo poema “Te esperei”, do homenageado José Carlos Capinam, ouvimos sobre o desejo como aquilo que move, traz reconhecimento, realizações, criação, vida! Imagens que atravessam, poemas que brotam, arte que se forma e causa inspiração. Em uso expressivo da linguagem, não necessariamente o correto, palavras carregam significações poéticas e abrem caminhos. Questiono: seria a arte uma das formas criativas ou inventivas através das quais o desejo mostra a sua cara?
Bianca Romaneda, poeta, nos brinda com os seus poemas e nos confessa que não deseja uma escrita de fôlego. Ela se contenta com palavras de respiro, com um vento que sopra entre páginas. Para a autora, desejo é a mola que move tudo, o que nos faz andar para frente, nos faz perguntar: o que estamos fazendo aqui? Romaneda localiza seu desejo na poesia, naquilo do qual não pode fugir.
O maestro João Omar traz o desejo como algo duradouro que motiva, inspira, persegue e sobretudo prepara, como a revelação de uma música nova, o que me fez pensar na canção de Pedro Luiz, que cantou e encantou: “eu vô fazê, vô fazê, música para enriquecer os corações do planeta, basta um papel e uma caneta.”
Itamar Vieira Junior, ao falar do seu livro Salvar o fogo, traz o fogo como elemento transformador, ambíguo. Ele o considera metáfora para o desejo humano, para tudo que está vivo, ímpeto de vida, criação.
Para Silvio Jesse, pintor, a arte tem que ser filha de um grande desejo, “Um quadro que não é feito com inspiração, com arte, com o coração, não é um quadro, é apenas uma reprodução.”