
Boletim #02 – AGOSTO 2023
EDITORIAL
Wilker França (cartelizante e associado ao IPB)
Escrever não é uma tarefa fácil. Até escritores renomados e com bastantes publicações revelam dificuldades diante da folha em branco. Para além da questão das diversas atribuições inerentes que cada um precisa encarar no dia a dia, a escrita convoca cada escritor a se deixar afetar por um processo inventivo. Em psicanálise, então, a dificuldade aumenta: não é com boa técnica que se escreve um bom texto. Sabemos que ao escrever, algo circula e ultrapassa a dimensão de uma simples mensagem. Foi assim que Lacan nos ensinou em seu texto “O seminário sobre ‘A carta roubada’”, ressaltando que la lettre não tem importância pelo que diz, mas como testemunho do dizer.

Convidado – Fabián Naparstek
LAMPEJOS
Do desejo: mais, ainda…
Rogério Paes Henriques (cartelizante e associado ao IPB)
“O desejo do homem é o desejo do Outro” (LACAN, 1964/1998, p. 223). Questionamo-nos se haveria ainda lugar para o desejo na atualidade. Em um mundo marcado pela modalidade de laço social configurada pelo discurso da ciência em parceria com o discurso do capitalista, a orientação majoritária das práticas psicoterápicas segue a via dos ideais superegoicos. A psicanálise de orientação lacaniana, em contraposição, vem reposicionar-se em uma Outra cena, aquela do inconsciente, refletindo um enlace ao Outro, isto é, à alteridade radical fundante do ser falante.

“Desejo, mostra a sua (tua) cara”
Não é demanda simples de ser atendida…
Tania Porto (associada ao IPB)
O desejo é aquilo que sobra, o que resta no processo de tradução da necessidade em demanda. No processo de traduzir as nossas necessidades para o Outro, e isso ocorre necessariamente de acordo com o código do Outro (linguagem), inevitavelmente alguma coisa se perde. Quando um bebê articula seu pedido, isso não corresponde exatamente à sua necessidade, pois o código é do Outro, e, como se sabe, o significante é apenas um lugar-tenente daquilo que representa. Não pedirá exatamente o que desejou e não receberá exatamente o que pediu. Já adverte, sabiamente, Lacan no Seminário 20: “eu lhe peço que você recuse o que lhe ofereço porque não é isso”.

What was I made for ?
Graziela Pires (cartelizante e associada ao IPB)
Esse é o título da música que encerra Barbie, um dos filmes mais comentados do momento. Billie Eilish, sua compositora de 23 anos, entoa de forma melancólica e suspirada a canção como um apelo numa busca de respostas ou sentido para sua existência. Ao ler a entrevista de Fabián Naparstek, intitulada “El deseo es la horma”, a música me veio ao pensamento, reverberando junto a questão localizada: para o quê fui criada?

Em busca dos sapatinhos
Rafael Chaves (cartelizante e associado ao IPB)
Sobre o desejo, Fabián Naparstek sintetiza “como algo que tem uma particularidade, um rastro (traço), e sempre aponta para algo”. Entretanto, fica o questionamento: e quando esse traço se apaga e o desejo se desencaminha?
Diferentemente da errância, pela qual o desejo envereda no campo da linguagem, o que é colocado em perspectiva aqui é a convulsão do predicado que leva o título da entrevista de Fabián na revista Registros: “el deseo es la horma”. A expressão pode ser traduzida livremente como “o desejo é uma forma”, passível de ser localizado; ou seja, essa “forma” diz respeito a uma forma particular onde cada sujeito coloca seu gozo como questão.

DESEJAR-TE
Desejo – uma pergunta
Axé – uma resposta
Liliane Sales (cartelizante e associada ao IPB)
“Axé significa o fundamento que nós temos. Significa o sagrado, uma casa de axé. Axé é uma resposta e não uma pergunta.”
Logo de chegada, sou surpreendida com essa afirmação de Mãe Zulmira. Ialorixá Nengwa do terreiro Tumbeci, ela fala que o “axé” é uma resposta, e eu ia em busca de uma pergunta sobre o desejo. Há uma busca que vem do orixá, e os filhos da casa só precisam se entregar e acreditar. Só? Não, é necessário respeito, amor, fé e responsabilidade. O que se dá em troca do que recebe é reverência ao santo, folha, animais, sacrifício dos resguardos, roupa branca, música e silêncio.

“AlÉM DO MAIS… A ESCOLA”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
O Desejo em Lacan
[…] Não é o que chamamos, correntemente, o pensamento, porque aquilo de que se trata o tempo todo é de um desejo.
Deus sabe que esse desejo, nós aprendemos ao longo da nossa pesquisa a nos aperceber de que ele corre como um anel que vemos desaparecer e reaparecer num jogo de passa-passa. Afinal de contas, ainda não sabemos se deve ser situado do lado do inconsciente ou do lado do consciente. E desejo de quem? e de que falta sobretudo? (LACAN, 1953-1954/2009, p. 65)

Diretoria da EBP – Bahia: Diretor Geral – Luiz Felipe Monteiro | Diretora Secretária Tesoureira – Luiza Sarno
Diretora de Cartéis e Intercâmbio – Carla Fernandes | Diretor de Biblioteca – Rogério Barros
Diretoria do IPB: Analícea Calmon (Diretora Geral) | Sônia Vicente (Diretora de Ensino)
Luiza Sarno (Diretora de Planejamento e Finanças)
Coordenação Geral das XXVII Jornadas: Pablo Sauce (EBP/AMP)
Comissão de Comunicação: Daniela Nunes Araujo (coord), Bruno Oliveira,
Graziela Vasconcelos, Júlia Jones, Liliane Sales, Márcia Ledo, Tânia Abreu e Wilker França.
Designer: Bruno Senna
