O Bilhete Clínico: uma escrita para fazer ver

A proposta do Bilhete Clínico inscreve-se na rubrica JORNADAS CLÍNICAS , espaço concebido como um verdadeiro mosaico de ideias, onde se começa a aquecer as turbinas da nossa Jornada.

Entre linhas e palavras, entre escuta e escrita, entre leitura e restos — é nesse entre que se desenha o Bilhete Clínico. Trata-se de uma escrita breve, ao modo da entrevista preliminar que, ENTRE VISTAS, recolhe o que se deixou marcar, escrever, equivocar.

Se, como nos ensina Lacan, toda entrada em análise é precipitada por um ponto de opacidade — por um não-saber que se encarna em uma pergunta —, o Bilhete Clínico se oferece como esse ponto de partida. Seja um recorte de caso, uma cena de filme, uma frase de livro, uma imagem ou som que reverberou, o que ali se propõe não é ilustrar conceitos, mas extrair efeitos clínicos e de transmissão que nos ajudem a pensar a atualidade da práxis.

A aposta dessa escrita é a de fazer emergir o singular do caso a caso, na medida em propõe circunscrever um real — a redução, o corte e sua consequência na experiência analítica.

Este pequeno artefato discursivo não busca converter-se em um saber aplicado universalmente, mas, antes, instaurar um vazio fecundo que nos convoque ao trabalho. Que ele possa, assim, desencadear o desejo de saber, o desejo de ler, o desejo de escrever…

Aléssia Fontenelle

Descolamento

A demanda de atendimento com urgência chega por WhatsApp, em uma sexta-feira à noite, após anos levando na bolsa, de um lado para o outro, a indicação do analista. À proposta de horário — “Sexta-feira, às 19 horas?” — a resposta vem imediata, confirmando o horário, porém, para a semana seguinte.

Leia +

A heroína

Pablo Sauce

Hero, ativista política de sucesso, exilada e “ex-heroinômana”; retorna a seu país de origem, onde já não está ameaçada de morte por seu ativismo heroico, para librar-se da heroína. Vicia-se em cocaína e consulta quando seu ativismo fica ameaçado por esta e tem a sensação de que algo nela vem desfiando; o que desperta o “instinto de sobrevivência” que sempre teve. O analista pergunta por essa sensação e ela responde que antecede a droga; que a acompanha desde sempre, como uma maldição. Admira personagens atrevidos, desapegados, que vivem “no fio da navalha”.

Leia +