Marcelo Magnelli
Associado do Instituto de Psicanálise da Bahia
Imagem: Pixabay
Das condições do amor à sua erosão, passando pela erótica possível ao longo dos tempos, em suas relações com o gozo e tomando as danças do amor de Pina como expressão artística. Este bem que pode ser um caminho de leitura para este número do Boletim.
Sergio de Mattos, em “O um não está mais aqui. O levaram”, recenseia o desaparecimento gradativo de Deus como único objeto de amor, permitindo que o Uno mude de cena e o Verbo mesmo nasça do vazio. Declínio do poder simbólico que permitirá à palavra ficar fora do corpo, mantendo-o sob escritura indecifrável. Diante de tempos onde encontramos um empuxo à extinção de uma erótica, uma questão ressoa para a Jornada: que corpo queremos e como fazê-lo, de maneira a estar melhor nessa dimensão ilimitada, silenciosa?
Ana Lúcia Lutterbach-Holck, em “Erótica e feminino” busca em Freud e Lacan as chaves de leitura para uma erótica lacaniana. Do amor cortês, passando pelo gozo impossível de das Ding, até chegar à erótica do nãotodo, um percurso para destacar a transgressão que a linguagem realiza no corpo, ao criar ilhas de gozo que subvertem seu uso.
Rosa López, na quarta parte da entrevista realizada por Marcelo Veras, destaca a identificação em jogo para o sujeito contemporâneo, aponta a um eu enfatuado, que se pensa autossuficiente. Com isso, coloca em marcha a pregnância de acesso ao gozo do Um, sem a necessidade dos prolegômenos do amor… amor agora erodido, curto-circuitado das complicações do desejo e do Outro.
Paulo Gabrielli e a Comissão Científica nos provocam a partir de três excertos de Freud, Lacan e Miller.
Finalmente, Daphné Leimann com “Nu dur, quando Pina Bausch dança o amor”, destaca os desencontros amorosos na dança de Pina: do impossível do encontro dos amantes – e seu tragicômico -, passando por suas invenções – sempre falhas -, o que decanta desse teatro dançado é seu amor por seus dançarinos e o testemunho deles, em retorno.