Scroll to top

Ditos de Abertura

É com alegria e entusiasmo que anuncio a XXVI Jornada da Seção Bahia e a XXII Jornada do IPB – A erosão de Eros, que acontecerão nos dias 11 e 12 de novembro de 2022, tendo como convidada nossa colega Rosa López, membro da ELP/AMP.

A frase do poeta Lautréamont – “Belo como o encontro fortuito entre uma máquina de costura e um guarda-chuva, sobre uma mesa de dissecação de cadáveres”[1] – nos remete, de pronto, a algo inusitado, meio bizarro, talvez impossível. Mas, de que impossível estamos falando?

Um encontro contingente, às vezes, com um pouco de sorte, pode acontecer. De repente, deu match! Mas estamos advertidos de que dois não fazem Um! Nas palavras de Lacan, no Seminário 19, “Eros não é, de maneira alguma, uma tendência para o Um, muito longe disso”[2]. Na verdade, isso está mais para um delírio, diz ele, e muito longe da experiência, quando o que está em jogo são homens e mulheres.

“Não há relação sexual”, “Há Um” – dois aforismos lacanianos que nos põem a pensar sobre qual seria o lugar do amor nessa história? Sabemos que a relação sexual não se escreve. Nada poderá dizê-la. Mas, no momento do encontro, e essa é a contingência, a relação pode cessar de não se escrever.

Os poetas aqui nos ensinam quando cantam “Que não seja imortal, posto que é chama, / mas que seja infinito enquanto dure.”[3]. Eis o seu tempo de suspensão: por um instante, o amor pode dar a ilusão de que algo pode ser escrito.

Encontro e escrito. A escrita é “ravinamento”, diz Lacan, “aquilo que choveu do semblante”. “O que se evoca de gozo ao se romper um semblante.”[4] No dicionário, encontramos que ravinamento são os sulcos formados pela erosão. A escrita é erosão.

Eis o amor enquanto causa e efeito da erosão. Se, por um lado, o discurso capitalista deixa de lado as coisas de amor – ficando ali o amor erodido; por outro, é o amor mesmo, com a erosão que Eros causa, que pode introduzir algo novo. Essa é a aposta da Psicanálise, enquanto prática fundada a partir do amor de transferência que, ao percorrer todos os seus labirintos, provocando rachaduras na pedra dura do gozo, abre espaços para que algo inédito possa brotar, já não mais preso ao Outro, mas sim como resposta ao impossível de dizer do amor. Seria esse um novo amor?

Seguiremos investigando! Foi dada a largada!

Mônica Hage
(Coordenadora da Jornada)

[1] LAUTRÉAMONT. Os cantos de Maldoror: poesias e cartas. São Paulo: Iluminuras, 2018.
[2] LACAN, Jacques. O seminário, livro 19: …ou pior. (1971-1972) Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2012. p. 104.
[3] MORAES, Vinicius de. Soneto de fidelidade. In: MORAES, Vinicius de. Poemas sonetos e baladas. São Paulo: Edições Gaveta, 1946.
[4] LACAN, Jacques. Lituraterra. (1971) In: LACAN, Jacques. Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003. p. 22.

Related posts

Post a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado.