Biblio-on
Paulo Gabrielli (coordenador da comissão de bibliografia), Carla Fernandes, Luiz Felipe Monteiro, Milena Nadier e Rogerio Barros.
“Aplicando nossa distinção entre as pulsões sexuais e as do eu, devemos reconhecer que a auto-estima depende intimamente da libido narcisista. Aqui somos apoiados por dois fatos fundamentais: o de que, nos parafrênicos, a auto-estima aumenta, enquanto que nas neuroses de transferência ela se reduz; e o de que, nas relações amorosas, o fato de não ser amado reduz os sentimentos de auto-estima, enquanto que o de ser amado os aumenta. Como já tivemos ocasião de assinalar, a finalidade e satisfação em uma escolha objetal narcisista consiste em ser amado.
Além disso, é fácil observar que o investimento objetal libidinal não eleva a auto-estima. A dependência ao objeto amado tem como efeito a redução daquele sentimento: uma pessoa apaixonada é humilde. Um indivíduo que ama priva-se, por assim dizer, de uma parte de seu narcisismo, que só pode ser substituída pelo amor de outra pessoa por ele. Sob todos esses aspectos, a auto-estima parece ficar relacionada com o elemento narcisista do amor”.
Freud, Sobre o narcisismo: uma Introdução. Imago Editora; primeira edição – 1974; p.115/6
“[…] o saber, que estrutura por uma coabitação específica o ser de fala, tem a maior relação com o amor. Todo amor se baseia em uma certa relação entre dois sabres inconscientes”
LACAN, J. (1972-1973). O Seminário, livro 20: mais, ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008; p. 155.
“Evidentemente, toda la cuestión es el modo de inclusión del objeto a: ¿lo tiene o no lo tiene? Lo tiene, pero no a su disposición. Lo tiene, pero no tiene su propiedad. Y es porque este objeto a lo tiene o no lo tiene por lo que hay una encrucijada que anuncié como la del amor y el goce.
Esta misma paradoja vehicula la definición del amor, a saber, dar lo que no se tiene. En esta fórmula está presente la paradoja de la inclusión. Para poder darlo, es preciso tenerlo de un modo que es no tenerlo. Por ese el amor y el goce están del mismo lado respecto del deseo”
MILLER, J.-A. Extimidad. Buenos Aires: Paidós, 2011; p. 70.
“Uma terceira via de acesso ao estudo do narcisismo constitui a vida amorosa dos seres humanos, em sua variada diferenciação no homem e na mulher (…) A comparação entre o homem e a mulher mostra que há diferenças fundamentais, embora não universais, naturalmente, quanto ao seu tipo de escolha de objeto” (p. 23-24).
Freud, S (1914). Introdução ao Narcisismo. In: Obras Completas. Introdução ao Narcisismo, Ensaios de Metapsicologia e Outros Textos (1914-1916). Vol. 12. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
Do lado masculino, o gozo é essencialmente finito, ele é localizável – o que Lacan designa como o gozo fálico, aquele que podemos contar, que se apresenta sob uma forma suficientemente elementar para ser enumerável – e, do outro lado, ele é gozo infinito, ao menos no sentido de não ser localizável. Essas duas formas de gozo, repartição que recobre a própria experiência do corpo, dão conta das duas formas de amor distinguidas por Lacan, a forma fetichista e a forma erotomaníaca – e por trás dessa palavra amor é preciso escutar o Liebe freudiano, ou seja, amor, desejo e gozo numa única palavra (p. 34).
MILLER, J-A. Uma partilha sexual. In: Opção Lacaniana Online Nova Série. Ano 7, no. 20, julho 2016. Disponível em: www.opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_20/Uma_partilha_sexual.pdf.
“…é que o saber, que estrutura por uma coabitação específica o ser que fala, tem a maior relação com o amor. Todo amor se baseia numa certa relação entre dois saberes inconscientes”.
Lacan, J. Seminário 20; p.197 ZAHAR EDITORES S.A. Rio de Janeiro – 1982.
“Vemos, assim, que o amor e o ódio, que se nos apresentam como opostos completos em seu conteúdo, afinal de contas não mantém entre si uma relação simples. Não surgiram da cisão de uma entidade originalmente comum, mas brotaram de fontes diferentes, tendo cada um deles se desenvolvido antes que a relação prazer-desprazer os transformasse em opostos”.
FREUD, S. As pulsões e suas vicissitudes. Vol. XIV, p.160 Imago 1ª Edição – 1974
“Nos vemos então, ao menos através da improvisação que estou fazendo, a colocar a pergunta do amor no real. Para dizer a verdade, se trata de uma pergunta que é quase impensável e que até o seminário Mais, ainda não foi tratada, salvo que aparece de uma maneira brilhante e rápida no Seminário 7, A ética da psicanálise, e precisamente a propósito de São Martin”.
MILLER, J. A. El partenaire-síntoma. Editora Paidós, p. 154
“A inserção do homem no desejo sexual está fadada a uma problemática especial, cujo traço primordial é que ela deve encontrar lugar em alguma coisa que a precede, que é a dialética da demanda, na medida em que a demanda sempre pede alguma coisa que é mais do que a satisfação a que ela apela, e que vai mais além disso. Daí o caráter problemático e ambíguo do lugar onde se situa o desejo. Esse lugar está sempre para além da demanda, considerando que a demanda almeja a satisfação da necessidade, e no aquém da demanda, na medida em que esta, por ser articulada em termos simbólicos, vai além de todas as satisfações para as quais apela, é demanda de amor que visa ao ser do Outro, que almeja obter do Outro uma presentificação essencial – que o Outro dê o que está além de qualquer satisfação possível, seu próprio ser, que é justamente o que é visado no amor.”
LACAN, J. Seminário 5: as formações do inconsciente. Ed. Zahar, 1999, p. 418.
“Seria possível representar o Isso como se achando sob o domínio das silenciosas mas poderosas pulsões de morte, que desejam ficar em paz e (incitadas pelo princípio do prazer) fazer repousar Eros, o promotor de desordens; mas talvez isso seja desvalorizar o papel desempenhado por Eros”.
O Eu e o Isso
Freud, S. Editora Imago. Vol. XIX, p. 76, 1ª edição em março de 1976.
“No Seminário: mais, ainda, ele põe em questão o conceito mesmo de linguagem, que passa a ser considerado como um conceito derivado e não originário, em relação à invenção lacaniana de lalíngua, que é a fala antes do seu ordenamento gramatical e lexicográfico. Trata-se, certamente também, do questionamento do conceito de fala, concebida, agora, não como comunicação, mas como gozo”.
Miller, J. A. (2012). Os seis paradigmas do gozo. Opção Lacaniana on-line, nova série. Ano 3. N. 7. Disponível em: http://opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_7/Os_seis_paradigmas_do_gozo.pdf. Acesso em 11 abril 2022.
“Com essa referência ao gozo inaugura-se a única ôntica admissível por nós. Mas não é à toa que ele só é abordável, mesmo na prática, pelos ravinamentos nele traçados pelo lugar do Outro”.
LACAN, J. A lógica da fantasia. In: Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003, p. 327.
Pode-se verificar, facilmente, que o valor psíquico das necessidades eróticas se reduz, tão logo se tornem fáceis suas satisfações. Para intensificar a libido, se requer um obstáculo; e onde as resistências naturais à satisfação não foram suficientes, o homem sempre ergueu outros convencionais, a fim de poder gozar o amor. (FREUD, 1912/1990, p. 170)
O começo da experiência analítica, vamos lembrar, foi o amor. Este começo é algo diferente da transparência própria da enunciação, que dava seu sentido às fórmulas de agora há pouco. É um começo espesso, um começo confuso. É um começo, não de criação, mas de formação. (LACAN, 1960-61/1992, p.13)
Se o ponto de partida de Lacan foi o fato da linguagem e o fato da fala como comunicação endereçada ao Outro, em Mais, ainda, Lacan começa com o gozo enquanto fato (MILLER, 2012, p.38)
Bibliografia:
FREUD, Sigmund. (1912). Sobre a tendência universal à depreciação na esfera do amor. In: FREUD, Sigmund. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1990. v. 9, p. 163-173.
LACAN, Jacques. (1960-61). O seminário, livro 8: A transferência. Rio de Janeiro: Zahar, 1992.
MILLER, J. (2012) Os seis paradigmas do gozo. Opção Lacaniana online nova série, ano 3, n.7. Disponível em:
http://www.opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_5/Intui%C3%A7%C3%B5es_milanesas.pdf Acesso em: 17/04/2022.