Alice Munguba – Associada do Instituto de Psicanálise da Bahia
Camila Abreu – Associada do Instituto de Psicanálise da Bahia
Em 2013 o tema de enamoramento entre homem e máquina foi abordado no cinema através do filme “Her” dirigido por Spike Jonze. Este tema passou a ser pauta. Ora defendido, ora ridicularizado. O filme retrata as novas configurações do amor e retrata o relacionamento entre o escritor Theodore (Joaquin Phoenix) e o sistema operacional Samantha (Scarlett Johansson). Muito se falou sobre a questão imaginária, a idealização do par romântico que enfim se realiza através da máquina.
Em 7 de maio 2022, o jornal O Globo publicou nas redes sociais uma matéria a respeito de pessoas no Japão que se casam com animes, representadas por bonecas. Eles se nomeiam de fictosexuais. “Quando estamos juntos, ela me faz sorrir. Nesse sentido, ela é real”, diz o marido. Percebemos, com isso, a presença de um outro objetalizado. Um enamoramento com uma “coisa” não traz um encontro mal-sucedido ou, ao menos, furado em algum ponto. Se acompanharmos a ideia de que a parceria-sintomática se dá a partir da falta e de que o amor pode vir a surgir, ou não, a partir de algum desencontro, como pensar essas relações “coisadas”?
Em outra matéria recente na rede social @infobae, uma jovem de 23 anos se diz enamorada por um Boeing 737 e se nomeia de Objectum sexual.
Estas notícias, assim como tantas outras, favorece, assim como a escuta clínica, acompanhar a subjetividade de nossa época. Causadas pelo desejo de indagar essas novas modalidades de parceria sintomática nos colocamos a questionar: sobre o que está implicado nesse tipo de relação em que sujeitos colocam o virtual e o inanimado como objetos amorosos?
Será que estamos, diante de uma pista que nos leva ao autoerotismo? Seriam os objetos inanimados as representações de algo de si mesmo? Estaríamos no terreno do objeto a e narcisismo, numa tentativa de enodamento ou de um resgate do espelho? Negar a presença de um sujeito vivo, seria uma na tentativa de não se haver com a não relação sexual, procurando um caminho para que ela seja possível?
Nesse enxame de questões, como costurar as novas formas de amor com a crise do desejo?
Convidamos vocês para nossa jornada e que estes questionamentos inacabados possam abrir caminho para escrita e envio de trabalhos. Lembrando que se estamos diante do furo, talvez estejamos no terreno do amor.