Filipe Souza Sampaio
Lendo sobre Marilyn Monroe e buscando o que poderia haver de contingência no seu encontro com Arthur Miller, ocorreu-me algo que Roland Barthes fala no início de seu livro A câmara clara. Ao relatar o encontro que teve com a imagem do irmão de Napoleão, ele diz: “esses são os olhos que viram o imperador”[1]. Ao me recordar dessa passagem, pergunto-me de imediato o que via os olhos de Marilyn, sobretudo no momento em que era olhada.
Em Parejas célebres: lazos inconscientes, vemos que ao ir à praia e se deparar com os olhares daqueles que a viam em seu traje de banho, Marilyn diz que se via entre “Norma Jeane, do orfanato, que não pertencia a nada; e uma outra que ignorava seu nome, mas que sabia seu lugar”[2]. Saber o lugar que se ocupa pressupõe um corpo, um corpo que Marilyn só tem algum acesso quando se vê olhada. É nesse instante que ela faz esse corpo que a todo momento “sai fora”, como vai dizer Lacan no Seminário 23[3].
Essa me parece ser uma possível contingência dos encontros de Marilyn, a possibilidade de reconhecer alguma forma no seu corpo. Ela experimentou o puro e simples olhar do outro, experimentou o clique de uma câmera, experimentou a pretensa subversão desses instantes ao ser filmada, mas o que insistiu, para além desses instantes, foi um algo disforme.