BENDEGÓ
Meteoritos são máquinas do tempo, janelas para o universo tal qual ele foi. Testemunhos da formação de aminoácidos no espaço, alguns estudiosos pensam ser o grão abiótico que deu o início a vida na terra.
Encontrada em 1784 por um menino no sertão da Bahia, Bendegó, “a pedra que os doutores levaram”, e a maior e a mais famosa do Brasil é, como todos os meteoritos, uma carta de almor. O cosmoquímico Tim Gregory[1] assim a considera.
“O real explode”, enunciado de Lacan que nos orientou esse ano de Seminário de Formação permanente sobre o seminário 17, faz nome desse meteorito que só a partir de 1802 foi considerado real. Realização do imaginário.
A pedra, uma vez caída, humanizada, foi cortada, lascada, profanada, transportada, sacralizada, demonizada, fotografada, filmada, narrada, objeto de batalhas e rancores, vaidades e vergonhas. Possou ao lado de Einstein na sua visita ao Brasil.
“Saxa loquuntur!”, as pedras falam, escreveu Freud em 1896 em seus Estudos sobre a histeria. Podemos acrescentar, quando são faladas. Nos interessa o destino das lascas, peças soltas no enredo de cada um. Da explosão do real, ficam os bendegós dos quais fazemos uso nas nossas Jornadas.