Bendegó

Bendegó

9 de agosto de 2021 - 07:06

BENDEGÓ

Meteoritos são máquinas do tempo, janelas para o universo tal qual ele foi. Testemunhos da formação de aminoácidos no espaço, alguns estudiosos pensam ser o grão abiótico que deu o início a vida na terra.

Encontrada em 1784 por um menino no sertão da Bahia, Bendegó, “a pedra que os doutores levaram”, e a maior e a mais famosa do Brasil é, como todos os meteoritos, uma carta de almor. O cosmoquímico Tim Gregory[1] assim a considera.

“O real explode”, enunciado de Lacan que nos orientou esse ano de Seminário de Formação permanente sobre o seminário 17, faz nome desse meteorito que só a partir de 1802 foi considerado real. Realização do imaginário.

A pedra, uma vez caída, humanizada, foi cortada, lascada, profanada, transportada, sacralizada, demonizada, fotografada, filmada, narrada, objeto de batalhas e rancores, vaidades e vergonhas. Possou ao lado de Einstein na sua visita ao Brasil.

Saxa loquuntur!”, as pedras falam, escreveu Freud em 1896 em seus Estudos sobre a histeria. Podemos acrescentar, quando são faladas. Nos interessa o destino das lascas, peças soltas no enredo de cada um. Da explosão do real, ficam os bendegós dos quais fazemos uso nas nossas Jornadas.

Notas:
Para ler sobre a obrigatoriedade inútil de sobreviver ao incêndio do Museu nacional, leia Marcus André Vieira, convidado das jornadas, em O meteoro e seus restos, publicado em setembro de 2018: http://uqbarwapol.com/le-meteore-et-les-restes-o-meteoro-e-os-restos/
Para saber mais dessa fascinante história demasiadamente humana do Bendegó, clique aqui: http://bendego.com/sobre.html

[1] Disponível em: https://www.wired.com/story/meteorite-is-a-love-letter-to-space-rocks/