A peculiaridade da interpretação nas urgências subjetivas é precisamente possibilitar que uma urgência possa ser subjetivável. Ou seja, que o falasser possa encontrar no real em jogo, um significante que não apenas lhe concerna como também que lhe sirva como ponte para uma outra cena, presente nas atuações, passagens ao ato e emergências de angústia. A interpretação portanto, é uma aposta onde o falasser em urgência possa realizar uma experiência de leitura em seu próprio dizer e com isso colher os efeitos da introdução de um tempo de compreender em meio ao curto circuito temporal que a urgência presentifica.
Luis Felipe Monteiro – (Membro da EBP-Ba/ AMP)
De um modo mais ou menos explícito ou implícito, cada paciente que recebemos carrega seu próprio ponto de urgência subjetiva, ponto de rompimento que o levou a solicitar uma intervenção a partir daquilo que retorna como falha no seu programa de vida (trauma). É essa dimensão da urgência que precisa ser acolhida, lida e localizada pelo analista em sua função de intérprete daquilo que se apresenta sem sucessão significante (S1S2), em um “não há tempo”, sem intervalo nem representatividade.
Nesse ponto o analista opera por fora da transferência propriamente dita, e esta intervenção supõe uma lógica particular no uso do tempo: quando o paciente exige pressa por concluir, o analista propõe abrir um tempo de compreender. Escansão que além de acolher e velar a emergência de gozo que deixou o sujeito no desamparo; aposta, através da palavra que separa o gozo do sentido, articular a urgência e o trauma a um sintoma, instaurando assim, como resultado, a transferência propriamente dita, cuja dimensão já estava em jogo, de entrada, para o analista.