Carrossel – Núcleo de Investigação de Psicanálise e Criança
Daniela Araújo, Ethel Poll e Mônica Hage
O Boletim Cronicid@des #5 traz o autismo como pauta. Buscamos abordar os mais diversos aspectos que permeiam este tema – da política à clínica –, apresentando, para vocês, o que há de essencial, além das discussões mais atuais em torno da clínica do autismo. Para estarem conosco nesta bela edição, convidamos colegas que tem uma experiência viva com esta clínica e também aqueles estudiosos do tema.
As crianças do Um sozinho: alíngua e linguagem na distinção dos autismos
Ana Martha Maia (EBP/AMP)
Durante a V Semana do Autismo – NEL, Jean-Claude Maleval (2017) apresentou uma tese em sua Conferência sobre a entrada do sujeito autista na linguagem pelo signo, e não pelo significante:
“Alíngua, essa pura materialidade significante, livre de toda significação e particularmente apropriada para cifrar o gozo, não chegou a estender suas raízes no corpo do autista. No entanto, é indiscutível que ele está submetido ao banho de linguagem, e que às vezes consegue se apropriar desta com uma grande competência”.
Manifesto contra a Lei 13.438
Elisa Alvarenga
Membro EBP
O Observatório de Políticas do Autismo da Escola Brasileira de Psicanálise/Federação Americana de Psicanálise da Orientação Lacaniana, empenhado em fazer valer o discurso analítico na sua relação com o discurso do mestre, que se desdobra na política, na ciência, na saúde e na educação, vem manifestar o seu repúdio à Lei 13.438, sancionada pelo Presidente Michel Temer em 26 de abril de 2017, com o apoio de parlamentares de vários partidos, que altera o artigo 14o do Estatuto da Criança e do Adolescente, para tornar obrigatória a adoção, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), de protocolo que estabeleça padrões para a avaliação de riscos para o desenvolvimento psíquico das crianças. Dita lei tem 180 dias para ser regulamentada, e é nesse espaço de tempo que nos cabe dirigir-nos ao Ministério da Saúde para nos manifestarmos contra a sua regulamentação.
O lugar da psicanálise na “epidemia” contemporânea de autismo
Fátima Sarmento
Membro EBP
O autismo pode ser considerado como um dos nomes do mal-estar contemporâneo. Diante do enigma que envolve essa categoria, pais, educadores, diretores de escola se arriscam a nomear a causa, identificar o quadro e diagnosticar. Desde a publicação do DSM-IV, em 1994, o número de casos ligados ao autismo cresce em ritmo epidêmico. Na perspectiva do DSM-5, o autismo é transformado em espectro: são os conhecidos Transtornos do Espectro do Autismo (TEA). Laurent salienta que a ampliação desse espectro é tão absurda que a quantidade de sujeitos afetados multiplicou-se por dez em apenas vinte anos, até atingir a frequência de uma criança em cada cem, e esse número cresce se incluirmos nesse espectro aqueles ditos “não especificados”. Nesse ritmo, especialistas já calculam que uma criança, em cada cinquenta, logo será considerada autista.
O lápis, a Mônica, o dinheiro…a música: objetos que abrem o circuito transferencial
Tânia Abreu
Membro EBP
O objetivo central deste trabalho é tomarmos o autista como um sujeito e não como um deficiente, o que quer dizer que eles têm o que dizer e precisam ser escutados. Destinar espaços, nas instituições ou na clínica privada, onde possamos discutir a prática clínica com crianças autistas ou psicóticas é fundamental para orientarmos nossas intervenções pela teoria, evitando desse modo recobrir a Real que ali comparece sobremaneira, com leituras imaginarizadas.
A distinção do autismo – Rosine e Robert Lefort
Cristina Vidigal
Coordenadora da Rede CEREDA-Brasil
Rosine e Robert Lefort partem do princípio de que a fonte do discurso psicanalítico se encontra na articulação fundamental entre o dia a dia das sessões e a lógica, pois a pura descrição clinica, por mais rica que fosse, correria o risco de se obturar em uma descrição fenomenológica, psicológica e mesmo tautológica. Eles sempre se dispuseram a responder rigorosamente por esta articulação na transmissão da psicanálise lacaniana com crianças e no trabalho de fazer avançar a psicanálise.
Resenha do livro: O autista e a sua voz
Alice Munguba Monteiro
Associada do IPB
Mais uma escrita precisa e preciosa de Maleval sobre aspectos cruciais, polêmicos e atuais sobre o autismo. A meu ver, leitura obrigatória para quem quer se iniciar ou se aprofundar no assunto.
Maleval inicia o livro com uma pesquisa vasta e rica sobre o conceito do autismo, da medicina à psicanálise. Visita os autores mais significativos de ambas as áreas que ajudaram a construir esse conceito e esse diagnóstico. Chega às pesquisas atuais genéticas e dialoga com o ponto de vista da medicina que a psicanálise não deve se abster de conhecer.
Resenha da Conferência de Jean Claude Maleval “A estrutura autística”
Por Analícea Calmon – EBP/BA
No dia 12.08.2017, o psicanalista Jean Claude Maleval, AP em Rennes, membro da Escola da Causa Freudiana e da AMP, proferiu, na sede da NEL, em Bogotá, uma conferência sobre “A estrutura autística”. Esta conferência, que se traduz como uma ação lacaniana, promovida pelo Observatório da política do autismo, ligado à FAPOL. foi transmitida por skype para as seções de três escolas da América do Sul: EOL – NEL e EBP. Na EBP Bahia, esta transmissão foi viabilizada por uma parceria do Observatório da política do autismo, com a Diretoria Geral e de Biblioteca
Entrevista com Claudia Mascarenhas
Por : Tania Abreu
1) CRONICID@DES: Uma nova lei (2017) está surgindo: a lei 13.438, que determina o seguinte: “É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou outro instrumento construído com a finalidade de facilitar a detecção, em consulta pediátrica de acompanhamento da criança, de risco para o seu desenvolvimento psíquico”. Você concorda que esta lei, menos do que propor uma precocidade no tratamento psíquico infantil – haja vista o desmonte dos serviços de Saúde Pública no Brasil – retira das crianças e suas famílias a autonomia para lidar com suas dificuldades, desconsidera fatores sociais na constituição dos sujeitos e promove a patologização de sinais que podem ser circunstanciais?
Diogo Calife – Artista – Escritor
Diogo tem 19 anos, mora em Recife, faz 2º ano do ensino médio numa escola regular, aos 15 anos em 2015 lançou o livro “ Laydo em hora de dormir”. Desde então, Diogo participa da Bienal do Livro de Permanbuco, autografando, inscrevendo o nome próprio na sua obra. Usa o desenho como meio de comunicação, de via de acesso às pessoas que se interessam por sua obra e agora a escrita. Ilustrou recentemente a cartilha produzida sobre o Autismo pela Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco. Atualmente, está trabalhando no seu próximo livro que será lançado em 2018.