O Boletim Cronicid@des #5 traz o autismo como pauta. Buscamos abordar os mais diversos aspectos que permeiam este tema – da política à clínica –, apresentando, para vocês, o que há de essencial, além das discussões mais atuais em torno da clínica do autismo. Para estarem conosco nesta bela edição, convidamos colegas que tem uma experiência viva com esta clínica e também aqueles estudiosos do tema.
Ana Martha Maia, no texto As crianças do Um sozinho..., traz uma significativa reflexão sobre os tratamentos de crianças autistas que já “sairão das maternidades etiquetadas”, a partir da nova lei brasileira 13.438. Se nós, psicanalistas de orientação lacaniana, não podemos ignorar a “insondável decisão do ser” diante do encontro contingencial sempre traumático com a linguagem, Ana Martha ressalta a importância de tomarmos alíngua e a linguagem como via de trabalho, e não sucumbirmos a essa proposta higienista.
Por sua vez, Elisa Alvarenga, no Manifesto contra a Lei 13.438, marca a posição firme dos psicanalistas do Campo Freudiano, representados pelo Observatório de Políticas do Autismo da Escola Brasileira de Psicanálise/ Federação Americana de Psicanálise da Orientação Lacaniana, contra esta lei, sancionada pelo Presidente Michel Temer em 26 de abril de 2017, que pretende determinar a obrigatoriedade da aplicação, a todas as crianças, nos seus primeiros 18 meses de vida, de protocolo ou outro instrumento destinado à detecção de riscos para o seu desenvolvimento psíquico. O manifesto expõe o engodo, os riscos e prejuízos desta lei e faz um convite a que todos se manifestem contra.
Em conversa com os textos anteriores, Fátima Sarmento questiona o lugar da psicanálise na “epidemia” atual de autismo e afirma que este pode ser considerado um dos nomes do mal-estar contemporâneo. Não deixa de ressaltar um alerta a quem se dispõe a trabalhar com eles: autistas não permitem que um diálogo prossiga se o outro só se autoriza pela identificação histérica. É preciso, portanto, atravessar esse ponto.
Tânia Abreu aborda as três vias que considera preliminares a qualquer trabalho possível com autistas: a política, a epistêmica e a clínica. Nesta última, destaca a importância dos objetos autísticos no tratamento destas crianças e os efeitos do encontro com um analista.
As nossas resenhas seguem trazendo mais da atualidade desta clínica. Na que tange o livro dos Lefort – A distinção do autismo –, Cristina Vidigal a introduz transmitindo do seu próprio encontro com os autores, assim como da importância dos mesmos e suas experiências para o Campo Freudiano. Aponta para a lógica do tratamento e sublinha a discussão de uma “estrutura autística”, comum aos casos e relatos autobiográficos. Já Alice Munguba Monteiro, ao resenhar acerca da obra de Maleval – O autista e a sua voz –, faz ecoar este trabalho como um norteador clínico essencial. Passeia pelos caminhos traçados neste livro e não deixa de relembrar do cuidado para não insistir na interpretação do sujeito, mas de dar condições a que suas invenções e competências sejam valorizadas. E a resenha de Analícea Calmon traz o essencial da conferência “A estrutura autística”, proferida pelo psicanalista Jean Claude Maleval, na sede da NEL, em Bogotá em 12 de abril deste ano.
Mas o Boletim Cronicid@des #5 não para por aí…
Temos ainda uma entrevista, realizada por Tânia Abreu, com Claudia Mascarenhas, psicanalista com vasta e rica experiência com a clínica do autismo. Em pauta, temas como a política do autismo frente à lei 13.348, diferenças entre o autismo e a psicose, a transferência, os objetos autísticos, a importância do trabalho interdisciplinar no tratamento do autismo, e outros.
A rubrica Pérolas aos poucos… apresenta o trabalho do artista Diogo Calife, um jovem de 19 anos , que soube fazer um bom uso da arte aliada à tecnologia . Toda a edição deste Boletim está sendo ilustrada com trabalho desenvolvido por Diogo .
E para fechar este número, o vídeo da entrevista, concedida à EBP/BA, com Agnès Aflalo, por ocasião do lançamento de seu livro Autismos, novos espectros, novos mercados. A autora nos mostra como pode ser perversa a aliança do discurso da ciência com o discurso capitalista e seus efeitos na clínica do autismo.
Boa leitura,