Pablo Sauce – Diretor Geral EBP Seção Bahia
Prezad@ leit@r,
Das loucuras crônicas dos já velhos manuais de Psiquiatria às crônicas da loucura nossa de cada dia, uma nova psicopatologia da vida cotidiana se impõe. O programa de estudo lançado por Jaques Alain Miller a respeito das psicoses ordinárias é uma via possível. Nela, Iordan Gurgel (AME da EBP/AMP) entre enganches, desenganches e reenganches, nos apresenta a clínica do funcionamento, ilustrada com vários exemplos clínicos. A seguir, Jésus Santiago (AE e AME da EBP/AMP) faz uma aproximação da toxicomania com a psicose ordinária a partir da função da droga como “substituto substituído”. Marcelo Magnelli (Associado do IPB), através de sua leitura, precisa para nós os “signos discretos” das psicoses ordinárias em contraponto com a foraclusão do NP como questão preliminar ao tratamento da psicose. O Núcleo de Psicanálise e audiovisual com o recurso ao cinema ilustra o que seria a própria estrutura do pathos do corte e da errância constitutiva do falasser. Na resenha do livro de Jésus Santiago, A droga do toxicômano: uma parceria cínica na era da ciência, Ana Stela Sande afirma “longe de propor uma solução fácil, apoiada na referência fálica, a clínica com o toxicômano tem muito a nos ensinar do que é o tratamento psicanalítico na atualidade”. Em “Pérolas aos poucos…” Gil Vicente Tavares (Diretor, dramaturgo, compositor e professor da Escola de Teatro da UFBA) apoia-se em Sade para nos ensinar como a ‘sede do drama é constitutiva de nós.
Boa leitura!
Enganches, desenganches & reenganches
Iordan Gurgel
1o esclarecimento: desenganche não se refere necessariamente ao desencadeamento da psicose. Se utiliza neodesencadeamento justamente para se referir a forma como o sujeito se desengancha do laço social; como ele se situa como outro em relação ao gozo.
2o esclarecimento: o neodesencadeamento se distingue das formas típicas de desencadeamento cujo paradigma está baseado no encontro com Um pai (como no caso Schreber). Consiste da soltura do broche (ponto de capitão), seja qual for, que estabilizava o sujeito. Isto implica localizar a relação do real com o gozo.
Droga, ruptura fálica e psicose ordinária
Jésus Santiago
A toxicomania, nos dias de hoje, dissemina-se, prolifera-se e torna-se adição. Ao assumir as roupagens da drogadição, a toxicomania torna-se emblemática do que vem a ser o sintoma em nossa época. O fenômeno toxicomaníaco típico do século passado, em que se destacava a dependência de uma substância, cada vez mais se massifica, na medida que seus objetos multiplicam-se. Se antes, a dependência se definia por meio da ação de uma substância, nas chamadas novas adições, esta substância não se faz, necessariamente, presente. Objetos de consumo, amor, pornografia, video-game, fast-food e outros são suscetíveis de dar lugar às novas condutas aditivas. Os significantes “adicto, drogadição e fissura” se impõem no discurso corrente, indicando que não se trata mais de uma dependência a uma droga ilegal, mas da força da banalização das adições. Acredita-se, assim, que todo objeto pode se tornar adicto, na medida em que solicita a pulsão, tendo o poder de induzir à repetição de um ato que modificará a relação do sujeito com os prazeres do corpo.
Investigação sobre o início da Psicose
Marcelo Magnelli
Na noite de 02 de agosto de 2017, continuamos com nosso programa de investigação sobre as psicoses ordinárias, empreendida por integrantes do Núcleo de Psicose do Instituto de Psicanálise da Bahia. Os encontros do núcleo constituem-se como atividades preparatórias para a XXII Jornada da EBP-Bahia. Já realizamos em meses anteriores um estudo sobre a Conversação de Arcachon e agora nos detemos no livro Psicoses Ordinárias. O objetivo deste livro é “estabelecer novas convenções sobre a psicose…
Errância e o ordinário das psicoses (enganches e desenganches)
Núcleo de Psicánalise e audiovisual
O Núcleo de Psicanálise e Audiovisual e o Núcleo de Psicoses estabeleceram uma parceria de trabalho este ano de modo que mensalmente o cinema tem sido um ensejo para discutir em especial as vicissitudes do ordinário nas psicoses. No penúltimo encontro realizado em 26 de Julho o Núcleo de Psicanálise e Audiovisual se valeu da questão do enganche e desenganche para tratar das suplências que apelam ao imaginário e dos modos de corte e ruptura que decorrem da falta de significante em pontos de impasse para o falasser. A errância fundamental, as foraclusões restritas e generalizadas são as protagonistas dos filmes que põem em cena os temas em pauta. Seja que a foraclusão recaia sobre o significante do Nome do Pai, seja que recaia sobre um…
Resenha do livro A droga do toxicôman: uma parceria cínica na era da ciência
Ana Stela Sande
O livro recentemente relançado por Jésus Santiago, A droga do toxicômano: uma parceria cínica na era da ciência, é uma versão ampliada, fruto de sua tese de Doutorado defendida na Universidade de Paris VIII, no departamento de Psicanálise, sob a direção de Jacques-Allain Miller. Uma curiosidade atrelada a este trabalho: Jésus esteve presente na conversação de Arcachon, que é contemporânea da tese. Na discussão Miller o convida a comentar um caso de toxicomania e, desde aquele momento, defende que a toxicomania é um paradigma da psicose ordinária que, em 1998, começava a ser um programa de investigação no Campo Freudiano.
A clínica da toxicomania destaca-se na atualidade, em que o discurso do capitalismo, associado ao discurso da ciência, é o que domina. Nesta obra, Jésus ressalta que a satisfação tóxica se constitui como uma saída que fixa o toxicômano na autossuficiência com o gozo do corpo. Para isso utiliza-se da tese proposta por Miller do gozo cínico como uma nova modalidade de sintoma, diante do qual as estruturas clínicas clássicas não são mais suficientes para acompanhar, aproximando a toxicomania da psicose ordinária. Esta insuficiência traz dificuldades à pratica psicanalítica, já que o gozo do toxicômano se apresenta impermeável à palavra e consequentemente, ao sujeito suposto saber.
A divulgação da nossa Jornada está a todo vapor, nossos cartazes já estão circulando nas cidades de Feira de Santana, Petrolina, Vitória da Conquista, João Pessoa. O Nosso boletim Cronicid@ades já invadiu as mídias e redes sociais
Com o intuito de levar o tema da nossa jornada para a cidade, estamos preparando um giro pelas Universidades de Salvador . Já está confirmada a exibição e debate do filme “A Loucura entre nós” na Faculdade Maurício de Nassau no dia 17 de outubro às 19hs.
Sade e a sede do drama
Gil Vicente Tavares
Era para ser a partir da obra, e não sobre a vida. Assim havia sido o convite para escrever uma peça sobre o Marquês de Sade. Era para ser montada por quem convidou, e não foi (cometi o delito eu mesmo, anos depois).
Era para ser erótica, e não política, mas as minhas leituras, descobertas e inspiração me conduziam a pensar o erótico através do poder. O que mais é o sadismo que não unir sexo e dominação, ordem e caos, orgasmo e castração?
Sade passou por cinco regimes diferentes. Foi preso em todos eles. As acusações variavam de excessivo a moderado. Ele não podia dar certo, e não queriam que ele se encaixasse em nenhum sistema político e social, pois sua contradição entre a liberdade e a libertinagem fazia do marquês um revolucionário e um reacionário, a depender da ocasião, do caso, de qual poder estava sendo fustigado, acariciado ou sublevado.
Na arte, nunca se deve pensar o que era para ser, porque o ser que se cria na arte sofre daquele descontrole próprio do ato de criar. Em algum momento, a harmonia, o corpo, as palavras, a imagem, a melodia, nos conduzem para onde eles querem.
Programei sim a ordem dos quadros. Escolhi minuciosamente quais quadros escrever, quais personagens usar. Eu queria, ao mesmo tempo, falar de política, sexo e religião, três temas que perseguiram e eram perseguidos por Sade ao longo de sua vida, e que o ajudaram e atrapalharam a ser o escritor e o prisioneiro que foi, a ser o libertino e o sem liberdade que foi.
A rubrica Lou(cure)-se, destina-se à elaboração de uma série de vídeos, onde pessoas das mais diversas áreas respondem a pergunta “qual é a sua loucura”?
Nesta edição Ivete Sangalo (cantora) , Fernando Guerreiro (autor e diretor de teatral) e Elizsângela (artesã) nos contam um pouco da sua loucura cotidiana.