A obra de Reinaldo Eckenberger é sem dúvidas uma das mais singulares no universo artístico. Falecido esse mês, ele deixa uma marca inconfundível que fez sucesso em diversos cantos do mundo. Eu o conhecia há mais de vinte anos, por trás do aparente acúmulo de peças quebradas e recompostas, havia método e obstinação. Reinaldo saía às ruas buscando todo o tipo de quinquilharias para compor seus seres exóticos, frutos de uma imaginação carregada de recuerdos infantis. Seu universo, dizia ele, era carregado de mães castradoras e aterrorizantes. Suas bonecas de pano traziam as cores e as texturas de seus próprios temores infantis. Sua arte era um tratamento eficaz para a angústia. Inspirado em Duchamps, fez toda uma coleção de pias invertidas povoadas de seres estranhos e carregados de tinturas eróticas, suas Terapias. Tenho em meu consultório uma dessas Terapias, com frequência recebo pessoas que me perguntam o que significa aquela peça bizarra. Costumo dizer, é o inconsciente à céu aberto, uma relação direta com a coisa. Anos mais tarde, ao ler o curso de Miller “Peças avulsas”, descobri que muito do que Miller falava estava presente na obra de Eckenberger. Suas esculturas mostram que o erotismos masculino não visa o outro sexo, mas os objetos fetichizados, despedaçados, incrustrados no corpo do outro. Descrente da unidade corporal montada no espelho, cada peça é uma nova montagem do corpo como aquilo que cai do céu dos ideais. Não é o corpo belo que está em questão, mas o corpo como potência erótica que convoca a todo momento uma invenção.