Marcelo Magnelli
Associado IPB
Caros leitores,
É com satisfação que entregamos a vocês o quarto Boletim Cronicidades. Neste número, sob a rubrica Entrem Tantos, Bernardino Horne nos apresenta as implicações do último ensino de Lacan ao destacar o momento da encarnação – quando um significante, para existir, deixa de ser – inaugurando a foraclusão generalizada e colocando o delírio como crônico (para todo falasser), fundante de uma crônica. Luiz Mena nos traz uma bela resenha do texto “A loucura nossa de cada dia” (de autoria de nossa convidada para a jornada, Graciela Brodsky), e parte do mesmo ponto de Bernardino – da tensão entre o que “não existe” e o que “ex-siste” – para acompanhar os oito pontos que nos permitem ver “o que o psicótico ensina à psicanálise”. Rogério Barros resenha a Revista Mental de número 35…
O UM e a Foraclusão Generalizada
Bernardino Horne
AME – AE 1995 – Consultor do IPB
No instante do Acontecimento de corpo que Lacan (2003) nomeia Sinthoma, o corpo biológico toma vida humana: há gozo. Esse ponto singular de cada um, que Miller (2009) nomeia “encarnação”, é o instante no qual o significante Uniano se incorpora a esse corpo biológico vivo: muta em gozo.
Lacan (2012) abre o capítulo do Uniano e afirma que o que está em jogo é “O que só existe ao não ser”. Essa existência de um significante que não é dá lugar a um acontecimento que inaugura um campo de puro gozo. O significante Uniano não é da ordem do ser, mas de um puro existir. É apenas uma marca presente como falta, como 0 (zero). Assinala o lugar marcado como puro existir e também o lugar do objeto pulsional. Trata-se de um momento logicamente anterior ao gozo de alíngua que é o gozo do Um sozinho. Esta marca primeira, original, Ur, que não é significante nem número fica para sempre foracluída. De esse modo, ex-siste.
Resenha – “A loucura nossa de cada dia”, de Graciela Brodsky
Luiz Mena
Associado IPB
Lacan começa seu trabalho clínico pela prática institucional com a psicose, no Hospital Saint-Anne, e faz da investigação da psicose o fio condutor de seu ensino, considerando a psicose como reveladora da própria estrutura, possibilitando um saber sobre a relação do humano com a linguagem que estaria velado na neurose.
Essa aproximação entre psicose e neurose já se encontra em Freud, como lembra Brodsky. No artigo “A perda da realidade na neurose e na psicose”, Freud explica que o neurótico tira libido do mundo externo …
Resenha da Revista Mental, número 35
Rogério Barros
Associado IPB
A Revista da Eurofederação de Psicanálise (EFP) Mental, de número 35, reúne trabalhos de diversos autores sobre o tema dos “Signos discretos nas psicoses ordinárias”. A edição, dirigida por Jean-Daniel Matet e editada Clotilde Leguil, traz importantes contribuições de psicanalistas do campo freudiano sobre a fineza clínica necessária para acompanhar os desenvolvimentos do ultimíssimo ensino de Lacan, em que o Nome-do-Pai é colocado como um semblante, e o diagnóstico diferencial não mais se evidencia tão claramente através da sua presença ou ausência.
O título “Signos discretos nas psicoses ordinárias”, foi inicialmente utilizado pelo Congresso da NLS, organizado por Yves Vanderveken em Dublin, no mês de julho de 2016. Nesse momento, a referência aos “signos discretos”…
A loucura de Ariano
José Carlos Lapenda
Membro AMP/EBP
Qual seria a loucura de Ariano Suassuna?
Tem a loucura mansa e a loucura varrida, todo mundo sabe disso. Mas, e a de Ariano? Se fosse vivo, bem que valeria perguntar qual seria a sua.
Inspirou e dirigiu o Movimento Armorial que ganhou a cena cultural, com a proposta de uma arte brasileira erudita a partir das raízes populares do Nordeste. Dessa forma, tratou dos temas humanos mais universais, com a leveza e a simplicidade da comunicação que lhe eram próprias…